A Liberdade de Errar
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- Categoria: Estudos
- Publicado: Terça, 19 Agosto 2003 19:07
- Escrito por Christian Zornoff
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fonte: www.escoladominical.com.br
O tema liberdade é abordado com certa freqüência nas mensagens que os pregadores ministram nas igrejas, nas praças e nos cultos domésticos.
Nesta oportunidade, gostaria de abrir meu pensamento sobre um tipo especial de liberdade, que é a que serve de título ao presente texto: a liberdade de errar.
O relacionamento humano é permeado por conflitos de interesses mesquinhos. Erramos porque somos humanos. E como tal, somos mesquinhos, individualistas, egocêntricos. Nossos atos são, em sua menor parte, externações do que em nossa essência há; do que ocorre em nosso interior, em nosso coração, em nossa alma. Por isso, nunca devemos sentir raiva, frustração ou decepção das pessoas ríspidas, intolerantes, arrogantes e que vivem a gritar, a xingar, a ofender, ferir e humilhar quem o que esteja à sua volta. Elas estão a externar a dor e a angústia que corroem suas almas e seus corações. As pessoas a quem amamos não nos pertencem. Muito pelo contrário; nós é que pertencemos a quem amamos. E como a maioria das pessoas, inclusive aquelas que freqüentam conosco uma das igrejas de Cristo, não sabe o que é amar, acabam por sufocar, estrangular, afogar, matar o amor em erros e constrangimentos.
Ao longo de toda a história bíblica, fica claro e indubitável que Deus, em seu amor, deu aos seus amados a liberdade de escolher entre o santo e o profano, entre o justo e o injusto, entre o melhor e o pior, entre o bom e o ruim.
Logo no início da história do mundo, no livro de Gênesis, vemos que Deus colocou no Éden uma oportunidade para o homem errar: árvore do conhecimento do bem e do mal. Esta árvore não ficou guardada por um fosso cheio de animais ferozes e vorazes; não foi cercado por arame farpado e cercas eletrificadas ou por guardas armados. Não! Ela ficou bem à vista e ao alcance do Homem.
Em Jeremias 13:15-17, Deus faz uma exortação, e prediz uma conseqüência pela desobediência.
Em Lucas 15, na parábola do filho pródigo, o pai poderia ter se recusado a dar ao seu filho a sua parte da herança. Mas não fez isto. Ele deu ao seu filho a liberdade de errar.
Isto, lógico, não pode ser utilizado para fugirmos de responsabilidade como pais, mães, irmãos, Obreiros da Casa do Senhor e deixarmos de redargüir, repreender e exortar como misericórdia, paciência e amor sobre a sã doutrina (II Tim.4:2).
Frementemente vemos pessoas à nossa volta fazendo o que é errado, ou pelo menos, aquilo com o qual, enquanto cristãos, não podemos concordamos. E a atitude mais comum é a indiferença. Não nos importamos com elas. Não as amamos. Pelo menos não o suficiente para alertá-las das possíveis e tristes conseqüências de seus erros. Temos medo de magoar, ofender. Temos medo de sermos rejeitados, ou, no mínimo, mal-recebidos. Temos medo de sermos apedrejados, difamados, desprezados, humilhados. Então, para salvar nossa integridade, deixamos que os irmãos caminhem em direção às trevas, ao inferno.
De se ver que existem dois extremos: de um lado, não permitimos que as pessoas que amamos façam o que achamos errado. Aprisionamo-las numa garrafa de vidro, a salvo dos perigos que o mundo à nossa volta representa. Do outro lado, não nos importamos com essas pessoas que proclamamos em alto e bom som amar. E, portanto, não as alertamos dos erros que estão cometendo...
É de se abrir um parêntese para explicar que muitas vezes não permitimos o erro para não arcar com as conseqüências desses erros. Isto é, não estamos exatamente preocupados com a pessoa em si, mas sim em evitarmos futuros problemas, prejuízos e dissabores para nós.
Um exercício que todos nós temos que fazer é tentar encontrar o fiel da balança, o meio-termo entre aprisionar as pessoas que amamos numa garrafa, e abandona-las à sua própria (má) sorte.
Quando amamos realmente alguém, nós queremos o melhor para esse alguém, mesmo quando "o melhor" não nós, porque amar é dar maior importância à felicidade da pessoa amada do que à própria felicidade. Você tem praticado este amor?
Parte II
Na primeira parte da presente mensagem, falamos sobre a liberdade que temos que dar às pessoas que dizemos amar. Uma liberdade que inclui a de cometer erros.
Comentamos que existem dois extremos: de um lado, não permitimos que as pessoas que amamos façam o que achamos errado. Aprisionamo-las numa garrafa de vidro, a salvo, pensamos, dos perigos que o mundo à nossa volta representa. Do outro lado, não nos importamos com essas pessoas que proclamamos em alto e bom som amar. E, portanto, não as alertamos dos erros que estão cometendo e das consequencias de seus atos.
Na presente gostaria de abrir a discussão sobre até onde podemos tolher a liberdade das pessoas que dizemos amar? Até onde podemos invadir a sua privacidade, a sua liberdade, o seu direito de errar?
Quando vemos nossas crianças pequenas com uma faca na mão, corremos para tira-la de suas mãos. Quando vemo-las andando em locais perigosos, tiramo-las de lá. Mas não fazemos isso com nossos filhos adultos. Eles devem saber o que estão fazendo. Mas.. e se eles quiserem cometer suicídio? Vamos permitir que façam isso em nome da liberdade que o amor pode e deve ter?
Lógico que isto é um exemplo extremo. Mas temos outras situações semelhantes, que vemos o erro, e prevemos as suas conseqüências. E ficamos no dilema: o que fazer?
Não é com raridade que encontramos pessoas que fazem apostas erradas com a própria vida, e enfrentam as conseqüências de seus erros. Para o resto de suas vidas...
Muitas vezes, mais preocupados em não arcar com as conseqüências dos erros de outrem é que não permitimos que tais erros sejam cometidos. Pelo menos fazemos de tudo para que tais erros (ou melhor, tais conseqüências) não venham a existir.
De qualquer forma, o que eu preciso que fique claro, é no tocante aos limites da liberdade que podemos dar àqueles que dizemos amar. Se é que temos amor por tais pessoas.
Deixe-me abrir um parêntese para comentar que não nos incomoda muito a dor e a angústia de pessoas que não fazem parte de nosso relacionamento, de nosso círculo social. Por exemplo, não deixamos de dormir por causa da fome que assola os paises em guerra. Mas saber que uma pessoa por quem nutrimos um carinho especial passa fome é caso de dor e sofrimento.
Por um lado somos pressionados a fazer alguma coisa para evitar ou diminuir a dor e o sofrimento de quem amamos. Se dizemos que amamos uma pessoa mas não nos importamos com a sua dor e o seu sofrimento, nosso amor é falso, é inexistente. Entende o que quero dizer?
Há um ditado corrente no mundo, que se aplica também à Igreja: uma ação vale mais do que mil palavras. A Bíblia diz que pelos frutos (ações) se conhece a árvore; e não pelas folhas (palavras).
Por outro lado, não podemos ajudar as pessoas que recusam a nossa ajuda. Sobre este tema, foi escrita a mensagem "eu quis e tu não quiseste", com base em Lucas 13:34
Ficamos entre o fogo e a frigideira, entre a cruz e a espada... precisamos dar aos que amamos a liberdade de errarem, mas até que ponto? Ao ponto de destruírem as suas próprias vidas?
Com absoluta certeza eu posso afirmar que precisamos, no mínimo, alertá-las do risco e das conseqüências que podem advir. Foi o que Deus fez ao longo de toda Bíblia. Profetas de Deus avisaram o povo hebreu do que aconteceria, mas não houve arrependimento, e o resultado foi a dor, a guerra, a destruição...
Você tem avisado as pessoas que ama das conseqüências de suas atitudes humanas, antropocêntricas, egoístas e egocêntricas? Você tem deixado que elas sofram e até mesmo morram por conta de seus erros e pecados sem ao menos tentar avisá-las do risco que estão correndo?
Você tem realmente amado os irmãos que você diz ou pensa amar?
É tênue e diáfana a linha divisória entre a indiferença e a liberdade de errar.
Colaboração : Marcelo Castro
Palavras são como sementes: guardadas nas gavetas jamais produzirão frutos.